29 de agosto de 2025
A coinfecção entre HIV e tuberculose segue como uma das maiores preocupações de saúde pública no Brasil e no mundo. Embora ambas as doenças tenham evoluído em termos de tratamento e diagnóstico, a combinação das duas infecções ainda representa uma ameaça significativa à vida de milhares de pessoas — especialmente nas regiões mais vulneráveis do país.
Segundo o Ministério da Saúde, 9,3% dos casos novos de tuberculose em 2023 ocorreram em pessoas vivendo com HIV. E para esses pacientes, o risco é alarmante: dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o HIV pode aumentar em até 34 vezes a chance de desenvolvimento da tuberculose ativa.
No Instituto Couto Maia (ICOM) — referência nacional em doenças infectocontagiosas — temos visto essa realidade de perto. O boletim epidemiológico de 2022 revelou que 27,35% dos pacientes internados com HIV estavam também com tuberculose ativa, que exigem maior complexidade no tratamento.
Perfil de coinfecção HIV-Tuberculose
A coinfecção afeta principalmente populações em situação de vulnerabilidade: pessoas negras, com baixa escolaridade, renda inferior a um salário-mínimo, e muitas vezes em situação de rua. São pacientes que enfrentam não só os desafios clínicos, mas também o peso do estigma e da exclusão social, que dificultam a adesão ao tratamento.
Diagnóstico precoce como ferramenta de prevenção
Para tentar conter a evolução silenciosa da infecção, o ICOM passou a utilizar o teste IGRA (ensaio de liberação de interferon-gama), capaz de detectar a tuberculose latente (ILTB), quando o bacilo está presente no organismo, mas sem causar sintomas. Com isso, é possível iniciar o tratamento antes que a doença se manifeste.
O teste IGRA permite uma ação preventiva e tem se mostrado essencial, especialmente em pessoas vivendo com HIV. Essa abordagem integrada contribui para reduzir internações e, sobretudo, salvar vidas.
Adesão ao tratamento ainda é um entrave
Apesar dos avanços no diagnóstico, um dos principais obstáculos segue sendo o abandono do tratamento, tanto da tuberculose quanto do HIV. Em muitos casos, a melhora dos sintomas nas primeiras semanas leva pacientes a interromperem o uso da medicação, o que favorece o agravamento da doença e o surgimento de cepas resistentes.
Desigualdade social como fator estruturante
O perfil sociodemográfico traçado pelo Instituto Couto Maia evidencia o que estudiosos da saúde coletiva têm reiterado há décadas: as doenças infecciosas são profundamente marcadas pela desigualdade. Dos pacientes coinfectados atendidos em 2022, mais de 86% se declararam pretos ou pardos, e mais de 50% viviam com menos de um salário-mínimo mensal.
O enfrentamento da coinfecção HIV-tuberculose exige mais do que medicamentos. Requer políticas públicas que articulem saúde, assistência social, moradia e redução do estigma.
O nosso compromisso aqui no ICOM é: diagnosticar cedo e tratar com dignidade.