30 de março de 2022
Em sessão científica organizada pelo ICOM nesta quarta-feira (30 de março), a médica infectologista e pesquisadora clínica em AIDS do INI Fiocruz Beatriz Grinsztejn apresentou o panorama da Aids na América Latina, com ênfase nos dados do Brasil. A sessão foi mediada pela diretora geral do ICOM Ceuci Nunes e contou com a participação da secretária de saúde da Bahia Adélia Pinheiro.
Beatriz disse que a estimativa dos pesquisadores é de que na América Latina 2,1 milhões de pessoas vivam com o HIV. Apesar de todos os avanços tecnológicos, a testagem para a identificação desses portadores do vírus ainda é muito baixa, com isso, entre 25 e 32% dos pacientes que chegam aos serviços de saúde já apresentam fase avançada da AIDS, com infecções oportunistas, tuberculose e doenças fúngicas.
A terapia antirretoviral teve impacto positivo para evitar a mortalidade dos pacientes na América Latina, entre 2010 e 2020 a redução foi de 21%. Apesar de ser um dado positivo, é menor do que em outras regiões do mundo, como por exemplo a África.
A médica Beatriz Grinsztejn explica que a AIDS hoje na América Latina está concentrada em populações mais vulneráveis, em especial entre homens jovens, até 29 anos, que fazem sexo com homens, travestis e mulheres transexuais.
Como consequência, a médica cita que o sistema de saúde precisa lidar hoje com a estes pacientes que entram no cuidado para AIDS cada vez mais jovens, ao mesmo tempo que precisa cuidar de uma população envelhecendo com HIV e que demanda atenção com para as comorbidades relacionadas a esta faixa etária.
Hoje, 936 mil pessoas vivem com o HIV no Brasil, destas 700 mil estão em terapia antirretroviral. Em uma análise de 139.257 pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral em entre 2017 e 2020, com exames realizados entre 3 e 15 meses após o início do tratamento, 92,2% se tornaram indetectáveis, ou seja, a carga viral é tão pequena que o exame não consegue detectar.
De acordo com a médica infectologista Beatriz Grinsztejn, este é um bom resultado do ponto de vista do programa e assegura que o Brasil está oferecendo um tratamento de alta qualidade aos pacientes. Ainda assim a médica alerta que a adesão ao tratamento ainda é um problema, mesmo com a disponibilidade universal no SUS e por ser uma terapia bem tolerada. Sobre esse aspecto a médica chama a atenção que o sistema de saúde precisa ser reavaliado quanto ao acolhimento e empatia com a população mais vulnerável, como travestis e mulheres trans, e à facilidade de acesso aos testes.
Outros indicadores que também impactam na vulnerabilidade para a contaminação por HIV e ao engajamento no tratamento são raça, escolaridade e idade, sendo os que apresentam mais dificuldades os negros, pessoas com menos de 8 anos de escolaridade e entre 18 e 24 anos.
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)
Desde 2018, já está em uso no Brasil a chamada Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Método de prevenção à infecção pelo HIV que consiste no uso diário de um comprimido que combina os medicamentos tenofovir e entricitabina. Esta medicação permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV, ou seja, antes de se expor ao risco. Este ano, foi iniciado um estudo pelo INI Fiocruz com o uso do Cabotegravir de ação prolongada, uma profilaxia pré-exposição injetável, com uma dose a cada 8 semanas. Com isso, é esperado que a adesão da população exposta ao risco seja bem maior.