20 de maio de 2019
Mesmo diante dos recentes surtos de sarampo e outras doenças controladas por vacinas fica evidente que muitos brasileiros não se sentem mais obrigados a se prevenir. Afinal, devemos nos vacinar?
Desde a primeira vacina criada para a varíola, em 1796, a história da imunização é uma história de sucesso. Sabemos que as verdades científicas são mutáveis, mas no que diz respeito às vacinas todas as evidências corroboram eficácia, eficiência e segurança ao longo de mais de dois séculos. Atribui-se à vacinação uma das causas para o aumento da expectativa de vida, que em um século saltou de menos de 40 anos para próximo dos 80 anos, juntamente com o saneamento básico, os antibióticos e a tecnologia médica.
O mundo erradicou a varíola e controlou a poliomielite, sarampo, rubéola, síndrome da rubéola congênita e tétano no natal. No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973, é considerado um dos melhores do mundo pelo número componentes e unidades vacinais distribuídas em todos os municípios. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 44 tipos de imunobiológicos e cerca de 300 milhões de doses distribuídas anualmente.
Entretanto, quem nunca ouviu alguém questionar a utilização da vacina para uma doença que não existe mais? O que precisamos entender é que doenças imunopreveníveis ficaram raras ou desapareceram porque conseguimos taxas de coberturas vacinais acima de 90%. Os vírus e bactérias continuam circulando, entretanto.
Após a introdução da vacina da gripe para idosos, na década de 1990, vimos cair em 30% as internações hospitalares desta faixa etária. Em nosso meio, temos um grande exemplo no Couto Maia. Em 2007, eram 50 leitos ocupados principalmente por crianças com meningite. Após a introdução das vacinas para as três principais bactérias causadoras da doença, vimos essa taxa cair exponencialmente. Hoje, o Instituto Couto Maia dispõe de 10 leitos ativos e a taxa de ocupação não ultrapassa 80%. Ocorreu redução das meningites também nos adultos.
Existem movimentos antivacinistas que atribuem às vacinas muitas coisas que a ciência, além de não comprovar, rechaça. Absurdos como o crescimento da obesidade, do diabetes e até de serem utilizadas como veículos para inoculação de partículas que causam câncer com vistas a reduzir a humanidade para 900 milhões de habitantes.
As baixas coberturas vacinais atuais trazem o risco real de retorno da poliomielite e já foram registrados surtos de sarampo no Brasil e em vários países do mundo. Em 2017/2018, tivemos o mais expressivo surto de febre amarela no Brasil. Registra-se o risco iminente do retorno da febre amarela urbana, sendo que o último caso registrado no país foi em 1942.
Ceuci Nunes
Infectologista, professora da Escola Bahiana de Medicina e diretora geral do Instituto Couto Maia
Fonte: Correio