30 de janeiro de 2023
O Brasil ainda é o segundo país com maior número de casos de hanseníase no mundo, perde apenas para a Índia. Na Bahia, em 2022, foram registrados 1.537 casos, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde.
Para diminuir o preconceito e o estigma da hanseníase, endêmica no Brasil, é realizada a campanha Janeiro Roxo em todo o país. Nesse sentido, o ICOM, referência na Bahia para tratar pacientes com a doença, promoveu o I Seminário de Conscientização da Hanseníase com a participação de equipes do hospital e da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador.
O médico Afonso Roberto Lima Batista, da Diretoria de Atenção à Saúde de Salvador, profissional com 44 anos de experiência na atenção primária, falou sobre a inclusão dos testes sorológicos e moleculares no Sistema Único de Saúde. A previsão é que cheguem no próximo mês à rede SUS e contribuam para o detecção precoce dos casos e para avaliar pessoas que vivam próximas aos pacientes diagnosticados.
O médico chamou a atenção para o fato de que a hanseníase é uma doença neurodermatológica e que, por isso, as equipes de saúde devem estar atentas para os sintomas neurológicos. Os sintomas relacionados à infectologia da doença são tratados e tem cura, mas o aspecto neurológico precisa de acompanhamento e, quando diagnosticada tardiamente, as sequelas podem ser irreversíveis.
A dermatologista do ICOM Rosâgela Cunha abordou as reações hansênicas. A médica lembrou que apenas 10% das pessoas desenvolvem a doença quando em contato com a bactéria chamada Mycobacterium leprae, ou Bacilo de Hansen, responsável pela hanseníase.
Ao contrário da crença popular, a doença é pouco contagiosa e para contrai-la é necessário contato muito próximo e frequente com doentes sem tratamento. O contágio se dá pelas secreções, ou seja, quando uma pessoa infectada respira muito próximo da outra e esta inala as partículas de secreção infectada, da mesma forma como ocorre com o resfriado.
O Boletim Epidemiológico sobre a Hanseníase da Secretaria de Vigilância da Saúde do Ministério da Saúde, publicado neste mês, aponta que a Bahia foi o quarto estado com o maior número de casos novos da doença entre 2010 e 2021, aparecendo atrás de Maranhão, Mato Grosso e Pernambuco.
A médica Rosângela Cunha destaca que a meta de erradicação da hanseníase só será possível com a busca ativa aos pacientes, para que o diagnóstico seja precoce e possa garantir a cura sem sequelas, além de cessar a transmissão.
As sequelas podem ser perda de força que impõe limitações físicas para usar as mãos ou andar, por exemplo.
A bióloga Vanessa Almeida que atua no setor de Agravo de Transmissíveis do Programa de Combate à Hanseníase apresentou no seminário o perfil epidemiológico de Salvador. Destacou que a hanseníase é uma doença tropical negligenciada, sendo 43% dos novos casos identificados no Brasil registrados no Nordeste. Em Salvador, entre os 12 distritos sanitários da cidade, os que apresentam mais casos são: São Caetano/Valéria, Itapoan e Subúrbio Ferroviário.
Vanessa informou que os registros indicam queda no número de casos detectados em Salvador. Mas, quando identificados, estão com maior nível de gravidade. Isto pode ser o indício de que a rede de saúde está sendo menos eficaz da detecção precoce dos pacientes, assim temos menos pessoas identificadas com a doença, e os identificados chegando ao tratamento em condições mais graves.
Portanto é sempre imortante estar atento e relembrar os sintomas da hanseníase:
Na última palestra do evento, a enfermeira do ICOM Cenize Cantão, apresentou o relato de uma experiência inovadora no acompanhamento de um paciente em tratamento.
O paciente, um homem que trabalha viajando por todo o país, não tinha como estar presente no ambulatório do Couto Maia a cada nova etapa da medicação. Diante desse desafio, as equipes médica, de enfermagem e assistência social desenvolveram, em conformidade com as novas diretrizes de telemedicina aprovadas no Brasil, um sistema de acompanhamento à distância do paciente.
A cada nova data em que deveria receber a medicação, ele informava, via aplicativo de mensagem, à equipe onde estaria e era orientado para qual unidade de saúde deveria se dirigir. Em seguida, as equipes de saúde se comunicavam e, quando o paciente chegava à unidade indicada, recebia a medicação e o acompanhamento e orientação necessários.
Tudo registrado em prontuário e acompanhado pelos profissionais do ICOM (o paciente tinha com ele uma caderneta onde os dados foram anotados).
O paciente recebeu medicação e foi avaliado no Rio de Janeiro, em Goiás, em Minas Gerais e na Bahia, com as 12 doses necessárias para completar o tratamento.
O objetivo dessa experiência foi garantir ao paciente uma assistência humanizada, de acordo com a especificidade da sua rotina e, assim, obter sua total adesão ao tratamento.
Cenize destaca que o sucesso desse processo inovador foi aproveitar a disponibilidade de uma rede de atenção à saúde nacional como é o SUS e realizar o primeiro atendimento humanizado e acolhedor para conquistar a confiança e a adesão do paciente, fundamentais no tratamento da hanseníase.