29 de julho de 2020
A análise dos dados epidemiológicos do primeiro semestre do ICOM revela que os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) cresceram 977% em comparação com todo o ano passado. De janeiro a dezembro de 2019, foram 82 notificações e entre janeiro e junho de 2020 o número saltou para 883. Destes casos, 55% foram confirmados como Covid-19 e necessitaram de internamento. Não estão incluídos nesta conta as síndromes gripais sem maior gravidade e que não necessitaram de internamento. Os 45% não diagnosticados como Covid-19 foram causados por outros agentes virais respiratórios como por exemplo influenza ou H1N1.
Esta demanda, muito acima da planejada, exigiu que o ICOM, como referência em doenças infectocontagiosas no Estado da Bahia, realizasse um grande esforço para adequar sua estrutura física e equipe para atuar como a principal unidade de assistência aos pacientes com Covid-19. Mas em paralelo aos cuidados com as pessoas, a equipe de especialistas do instituto já inicia os primeiros estudos e análises do perfil epidemiológico que permite perceber como a doença tem atingido a população da Bahia. As informações geradas pelo ICOM são somadas às demais notificações que alimentam o banco de dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP) e o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) da SESAB.
Um movimento claramente percebido, neste momento, é a interiorização da pandemia. Hoje, o ICOM já tem recebido mais pacientes de outros municípios do que de Salvador e Região Metropolitana. Ao todo o hospital já recebeu pacientes de 46 municípios diferentes. Entre as pessoas atendidas pelo instituto, ocorreram óbitos entre pacientes de 21 a 97 anos, sendo que a maior incidência está entre aqueles com mais de 40 anos. Homens são maioria entre os pacientes com 56% dos casos.
A maioria dos casos analisados apresentou alguma comorbidade. Em primeiro lugar as doenças cardiovasculares crônicas (42,2%), em segundo lugar diabetes (28,2%) e em terceiro a obesidade (14,5%).
Coletar, estratificar e analisar estas informações, ainda no calor dos acontecimentos, é responsabilidade do Núcleo Hospitalar de Epidemiologia (NHE) do ICOM, criado em 2007 e composto por sete profissionais, um médico na coordenação, enfermeira e sanitaristas. O detalhamento das informações em fonte primária é que irá permitir, no futuro, o estudo mais profundo e apurado sobre esta pandemia, contribuindo para o aprendizado.
Manter esta grande quantidade de dados atualizados e corretos, trouxe alguns momentos difíceis para a equipe, além de todo o impacto emocional de estar no olho do furacão, a coleta ativa é trabalhosa e exige apuro técnico. Na semana mais crítica, de 7 a 13 de junho, foram notificados 23 óbitos.
Shirley Cruz, sanitarista do NHE do ICOM, explica que o instituto tem uma situação privilegiada porque possui uma equipe qualificada e dedicada à atividade de coleta e registro de dados para notificação. A sanitarista destaca que, neste momento, a análise dos dados epidemiológicos ainda tem influência de diversas variáveis que não podem ser controladas. Posteriormente, será possível estudar melhor as informações sobre a Covid-19. “Este conhecimento está sendo construído. Um exemplo disto é a ficha de notificação para síndrome respiratória aguda grave, não havia no formulário locais específicos para registrar sintomas como diarreia, problemas gástricos, hipoxemia silenciosa, perda de paladar e olfato, comuns na Covid-19. Estamos classificando como ‘outros’ e especificando no formulário, mais adiante quando pudermos analisar todas estas informações este quadro ficará mais claro”.
Rosildete Pires, sanitarista do grupo do NHE, que já atuava no Núcleo na época de maior incidência da H1N1, explica que o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, traz muitas surpresas se comparado com outras doenças “no H1N1, por exemplo, sempre havia uma questão respiratória entre os primeiros sintomas, a Covid-19 pode começar com questões não respiratórias. É um vírus completamente fora da caixa. Por isso a dificuldade em estabelecer protocolos e a importância do registro de dados para estudos futuros”, destaca Rosildete.
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