12 de janeiro de 2022
O Instituto Couto Maia é uma instituição de saúde centenária que atua não apenas na assistência aos pacientes, mas também no ensino e na pesquisa. Neste momento, o hospital participa, simultaneamente, de 43 projetos de pesquisa. Com isso, se mantém na vanguarda do conhecimento científico.
Naturalmente, a Covid-19 domina os temas abordados, são 35 pesquisas dedicadas a investigar questões relacionadas ao novo coronavírus em áreas de conhecimento como ciências da saúde, saúde coletiva, saúde pública, fármaco, vacinas, engenharia, genética humana e nutrição.
Alguns projetos são multicêntricos, ou seja, envolvem dados e pesquisadores de mais de uma instituição, outros foram realizados exclusivamente no ICOM. Entre as organizações parceiras estão a UFBA, Fiocruz Bahia, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fiocruz do Rio de Janeiro, Universidade Federal de São Paulo, Science Valley, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Sociedade de Cardiologia do Estado de SP, Senai e Hospital e Maternidade Christóvão da Gama.
A manutenção da atividade de pesquisa científica aliada ao ensino, permite que o ICOM esteja sempre alinhado ao melhor conhecimento e prática na assistência aos pacientes com doenças infectocontagiosas, além de proporcionar oportunidade de aperfeiçoamento a muitos profissionais. No último ano, além dos preceptores, atuaram na área de ensino e pesquisa 560 profissionais e estudantes de diversas áreas como médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e biomédicos. Na infectologia, que é a principal especialidade do ICOM, a residência tem 15 vagas ao todo, com 5 novos médicos por ano.
Para os pacientes, tratar-se em um hospital que tem a atividade de ensino e pesquisa como pilar significa ter acesso a tratamentos e medicações que ainda não estão disponíveis para todos os hospitais.
A participação dos pacientes nas pesquisas é feita de forma voluntária. A equipe explica, detalhadamente, o processo e aplica o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Mesmo após a assinatura do termo, o paciente tem o direito de interromper sua participação no estudo a qualquer momento e sem qualquer tipo de dano.
O ICOM proporciona aos pesquisadores um ambiente com infraestrutura adequada fortalecendo uma rede de investigadores aptos a compreender e aplicar os resultados obtidos. A médica infectologista e diretora geral do ICOM Ceuci Nunes lembra que a principal atividade do hospital é a assistência aos pacientes e que a manutenção do ensino e pesquisa beneficia a todo: pesquisadores, profissionais e pacientes. “O ensino e a pesquisa fazem com que nosso hospital atraia melhores profissionais, mantenha-se alinhado ao conhecimento de vanguarda, e contribua para a evolução da medicina, a partir de trabalhos realizados com evidências e rigor científico”, completa Ceuci.
O estudo Recover, coordenado pelo Instituto Nacional de Infectologia (INI) da Fiocruz do Rio de Janeiro, envolve diversas instituições de saúde na coleta de dados clínicos e laboratoriais de pacientes que tiveram Covid. Os pacientes são acompanhados com contatos em 30, 90, 180 e 360 dias para verificar se houve alguma internação e qual o estado vacinal. Com isso, está sendo formado um grande banco de dados, que já possui 1300 pacientes, e que permitirá, de acordo com a médica infectologista Verônica Rocha, que possam ser feitas diferentes análises para compreender diversos aspectos da doença, uma vez que envolve muitos centros de saúde e regiões brasileiras, evitando o viés de uma única instituição.
O estudo Michelle avaliou o uso de anticoagulante em pacientes que haviam sido internados por Covid e que tinha o risco aumentado para desenvolvimento de trombose. Já se tinha conhecimento que a doença aumenta o risco de trombose, em especial em pacientes que permanecem internados por muito tempo. A conclusão do estudo do qual participaram 320 pacientes de diversos hospitais foi que o medicamento rivaroxabana reduziu em 67% o risco de trombose e em 87% o risco de morte por trombose venosa profunda. A médica infectologista Karine Ramos, coordenadora da emergência do ICOM, destaca que este estudo teve repercussão internacional e permitiu a mudança de conduta no tratamento de pacientes que se enquadram nesse perfil de risco.
A neurologista Jesângeli de Sousa Dias coordena um estudo sobre manifestações neurológicas em pacientes que tiveram Covid. Inicialmente, o estudo avalia o prontuário de 535 pacientes, para verificar quantos e quais apresentaram sintomas neurológicos, em seguida entrarão em contato com estes pacientes para investigar com eles evoluíram do ponto de vista neurológico após 2 anos da infecção, se persistem com manifestações neurológicas como perda de memória, fadiga e insônia, comparando estes dados com aqueles encontrados em estudos já publicados sobre o assunto.
O ICOM é um dos poucos hospitais do país a participar do estudo COVPEM, realizado em parceria com Fiocruz-Bahia, para fazer necropsias minimamente invasivas em corpos de pacientes que morreram com Covid-19. Ao contrário das necropsias ou autópsias tradicionais, nas quais a maioria dos órgãos é retirada do corpo e cada órgão é examinado minuciosamente. Nas autópsias minimamente invasivas apenas pequenos fragmentos dos órgãos são retirados do corpo. Nesse procedimento, os órgãos internos são localizados usando-se um aparelho de ultrassonografia e o patologista extrai, na maioria das vezes, com o auxílio de agulhas especiais, tecidos de diversos órgãos. Com isso, o corpo se mantém preservado, há menor resistência das famílias e pode-se ampliar muito o número de casos investigados.
O ICOM participa, junto com outros 450 hospitais de 27 países, do maior estudo sobre eficácia de medicações para a Covid-19 liderado pela Organização Mundial de Saúde. O estudo, chamado Solidariedade (Solidarity), avaliou o uso de 4 medicações em quatro grupos de pacientes hospitalizados com Covid-19.
Os resultados do estudo indicaram que três das medicações avaliadas, foram ineficazes: interferon, cloroquina/hidroxicloroquina e lopinavir. Nenhuma delas mostrou benefícios para os pacientes, ao contrário, foram percebidos malefícios com o uso de cloroquina e interferon. Consolidando a não indicação destas medicações. A quarta medicação avaliada foi o remdesivir, aprovado pelas agências FDA (EUA) e Anvisa (Brasil) para o uso no tratamento da Covid-19.
O Instituto de Saúde Coletiva da UFBA coordena um amplo estudo que busca “analisar os modelos, estratégias e ações de vigilância em saúde em distintos níveis de atenção, para a redução da exposição ao risco de contaminação na população e em trabalhadores de saúde, a detecção precoce de casos e o encaminhamento em tempo adequado de pacientes para a assistência especializada e hospitalar”. O estudo é dividido em 7 subprojetos que, ao longo do tempo, vêm gerando diversos boletins e análises. O médico sanitarista Luís Eugênio Portela Fernandes de Souza coordena a avaliação da gestão clínica de pacientes com Covid-19 no ICOM. Este subprojeto tem como objetivo estudar a associação entre as características sociodemográficas dos pacientes (idade, sexo, raça/ cor, ocupação, renda, grau de escolaridade e local de residência), a presença de comorbidades e os desfechos (alta ou óbito). Em segundo lugar, buscar estimar necessidades de serviços hospitalares em futuras ondas epidêmicas de Covid-19 e outras Síndromes Respiratórias Agudas Graves por meio de modelos matemáticos, a partir de parâmetros definidos com base na experiência de utilização de serviços do Instituto.